Um dia perdido no Chile

No inverno amanhece super tarde na capital chilena, lá pelas 7 da manhã e nesse dia eu acordei quando ainda não eram nem seis horas. Estava um breu e fazia um frio asqueroso, daqueles que dá vontade de vestir a roupa por cima do pijama mesmo.

Tudo a postos, 2 calças, 2 camisas, 2 casacos, meia, tênis, luva e gorro, fiquei parecendo um esquimó. Desci para esperar a van do passeio até Cajon del Maipo que passaria às 6 horas em ponto. Fiquei na porta do hotel, mas a neblina, comum em Santiago nessa época do ano, não me permitia enxergar mais de 2 metros a minha frente. Eu entrava e saia na porta do prédio. Entrava pra me aquecer do frio e saia pra tentar enxergar a van.

6h20, pensei: deve ter acontecido algum imprevisto. 6h40, vou procurar notícias no grupo de whatssap que a agencia havia me passado. 7h00, já estava tirando satisfações, não respondidas, pelo aplicativo e incitando um motim junto aos demais participantes. 7h30, é melhor esse motorista ter sido assassinado ou eu mesma vou cometer homicídio quando ele aparecer por aqui.

Não tenho nenhum problema em lidar com imprevistos, aliás, estar numa viagem é realmente sair da zona de conforto e lidar com imprevisto na maioria das vezes, o meu maior problema é não saber fazer isso de uma maneira doce e calma. Se eu tiver com a razão, meu amigo, se prepare para ser oprimido por um furacão.

Às 8h00 veio a notícia: o passeio não ia acontecer, seja lá por qual motivo, o tal motorista não apareceu pra trabalhar. Só que eu já tinha feito check out no hotel às 6h da manhã, pois nesse dia, ia trocar a hospedagem para outra localidade. Tão pouco tinha como ir para a hospedagem reservada, pois o check in tinha sido combinado para às 17h, visto que passaria todo o dia fora por conta do passeio.

Mas o dia podia ficar melhor? Digo, pior… Era época de festas pátrias no Chile e tudo estava fechado. Restaurantes, supermercados, shoppingns e a maior parte dos pontos turísticos (não me pergunte o motivo pelo qual eles fecham os pontos turístico no feriado, pois eu também não entendi). Para completar os pontos turísticos que estavam abertos eu já havia visitado nos dias anteriores da viagem. O que me resta? Chorar? Sim ou com certeza?

Não tinha opção de ir pra Valparaíso, Vina del Mar ou pro Deserto do Atacama ou qualquer inclemente cidade existente no Chile, pois esse maldito feriado acontece no país todo. Estava presa, de mãos atadas, ia perder meu dia e isso já era um fato.

Subi pro hostel com vontade de implorar de joelhos para ter a chave do quarto de volta, nem que fosse pra dormir até meio dia, mas só tive coragem de jogar a minha mala no chão e ficar encolhida no sofá tentando parecer invisível. E se me perguntarem algo? Responderei na cara dura “No hablo espanhol!

O ponteiro do relógio se arrastou até às 11h30. Sim, eu fiquei no sofá até 11h30. Então decidi almoçar. Coloquei a mochila carregada nas costas e saí para as ruas, mas todo e qualquer estabelecimento estava fechado. Fui andando na direção no meu flat alugado e pensei mandar uma mensagem para a anfitriã explicando toda a tragidicidade da minha manhã e suplicar para que o check in pudesse ser efetuado mais cedo, mas eu não tinha internet.

Cheguei no prédio. O porteiro fava um espanhol incompreensível e eu acenava com a cabeça perguntando insistentemente se a chave do 1301 já estava por lá, mas não estava. Pedi a senha do wi-fi e entre mimicas consegui entender. Mandei a mensagem. Esperei a resposta. Nada.

Agora de fato precisava almoçar, pois já eram quase duas da tarde. De novo a mochila pesada nas costas, mais mímicas para avisar pro porteiro: “me vuelvo después“, e mais saga nas ruas para encontrar um restaurante. Achei um Mc Donalds, mas a fila dobrava o quarteirão. Desisti.

Nesse meio tempo descobri um ponto turístico que ainda não havia visitado: o Cerro San Cristoban. Rumei pra lá, e no caminho encontrei um Mc Donalds mais vazio para fazer a refeição. Oba! parecia que o dia ia começar a melhorar, mas chegando na entrada do cerro a fila para pegar o funicular era tão grande que a única certeza que tive é a daquele velho ditado: Nada é tão ruim que não possa piorar!

Mas como quem não morre, não vê Deus, bora enfrentar uma hora de fila com uma mochila pesando igual chumbo pendurada nas costas e pagar caro na entrada pra subir de funicular. A vista é incrível, cidade na frente e cordilheira nos fundos. Mas o meu cansaço só me permitia querer fazer o mesmo que o refrão cantado na música do Bruno e Marrone: dormir na praça. E foi o que fiz. Logo eu que nem gosto de sertanejo.

Mas viagem é isso, mesmo o que dá errado fica legal, tem outra cor, tem outro gosto, tem outro sabor, então tudo bem que tudo tenha dado errado, no dia seguinte, quem sabe, dá tudo certo, e se não der, pelo menos dá uma boa história pra contar.

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Débora Santiago
Débora Santiago
Turismóloga e fotógrafa por profissão e blogueira por vocação. Sócio-fundadora e autora do blog Diário de Uma Viajante desde 2010.
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8 respostas
  1. E não é que mesmo com todos os dissabores do dia e acontecimentos inesperados, você conseguiu transformar seu limão numa limonada?!!! Uma linda vista de Santiago se descortinou e, ainda por cima, nos presenteou com um belo texto! Em viagens, mais que em outra situação, é sempre bom sabermos lidar com os imprevistos! E assim vamos aprendendo e adquirindo mais experiência! Dá para dizer que valeu, né?

  2. Ótimo texto! Adorei a estrategia do “no hablo español” Hahaha. Mas mesmo com perrenguinho o Chile é o máximo! Amo Santiago e volto lá quantas vezes puder! Mas não nas festas pátrias… Rsrsrs

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