Quando tudo dá errado numa viagem

É difícil admitir que uma viagem não saiu da maneira que estávamos esperando. Eu nem me lembro que horas do dia eram quando o fundo do carro bateu naquele buraco, numa estrada de terra batida a caminho da cachoeira do Parque Natural do Braço Esquerdo. Nada que já não tivesse acontecido antes, visitando alguma outra cachoeira em algum lugar do mundo, mas ok, seguimos.

Já no parque, na trilha para a cachoeira pegamos duas vezes a trilha errada e andamos em voltas por cerca de 40 minutos até percebermos que estávamos perdidos. Resolvemos retornar para o início da trilha onde vimos que o nosso erro foi apenas ter seguido em frente, pois a trilha correta e que levava apenas 05 minutos ficava no lado direito.

Depois de aproveitar aquela cachoeira maravilhosa de 90 metros de altura e de andar mais do que o previsto ao se perder na trilha, resolvemos voltar para a cidadezinha e almoçar. Isso se o chacoalhar e o barulho que o carro estava fazendo tivesse permitido. Não levou muito tempo para que o carro quebrasse de vez, nos deixando na mão e perdidos em Corupá.

Entre o contato com a locadora, que por acaso ficava a 250km de distancia, em Florianópolis, e o desespero de procurar um lugar seguro para deixar o carro que não fosse no meio da rua, aparece um cidadão educado tentando ajudar. O bom sujeito, infelizmente, nada pode fazer, pois afinal, que mecânico ele poderia indicar que estivesse disposto a fazer um serviço numa cidade pequena num domingo?

Combinamos então um horário com a locadora no final do dia para fazer a troca do carro e seguimos andando na pacata cidade, num horário muito além do meio dia tentando achar um local para almoçar. A tarefa era difícil, mas não impossível. Depois de voltarmos andando até o centrinho de Corupá observando quase que de maneira indiscreta qualquer loja que estivesse aberta e que parecesse vender comida, de qualquer tipo.

Encontramos, por sorte, bem no meio da praça um restaurante ainda aberto, com buffet livre por um preço super justo e muito saboroso. Ok, talvez a quantidade de fome tenha colaborado para a parte que diz que estava muito saboroso. Nada poderia ser melhor,  mas foi, o dono do restaurante sentou-se a mesa conosco, super simpático contando seus “causos” de vida e como foi parar naquela cidadezinha no norte/nordeste catarinense. Fizemos um amigo.

Agora saciados, resolvemos que não poderíamos perder o dia a espera do carro que estava sendo trazido pela locadora. Descobrimos que havia uma cachoeira a 8km de distancia, e resolvemos tomar um taxi até lá. Na pracinha havia um único taxi parado e um senhor de idade muito avançada dormia no banco do carona. Tomei então a liberdade de acordá-lo e perguntar se estava disposto a nos levar a cachoeira da usina. O “velho” topou.

O preço estava acertado pra a viagem de ida e combinamos com ele um horário para que nos pegasse no mesmo local na volta e seguimos. No desembarque, o quase que centenário senhor se deu conta de que poderíamos estar molhados para sentar no banco do carro no retorno e desfez o negócio dizendo que não voltaria para nos buscar. Quase gritei que queria minha gorjeta de volta! Mas já tinha acontecido coisas de mais no meu dia para terminar brigando com um idoso moribundo que provavelmente ia voltar para dormir naquela praça no banco do carona do seu velho taxi e não faria mais nenhuma corrida até o final do dia. Afinal, era inverno, o dia não estava quente e a cidade estava com cara de domingo.

Visitamos a cachoeira e as ruínas da velha usina, e finalmente tivemos mais um momento feliz nesse dia. Chegando próximo do horário de fazer a troca dos carros voltamos até a entrada da cachoeira e perguntamos ao rapaz e a moça que tomavam conta do local se teriam o telefone de um taxi para nos passar. Eles foram muito solícitos e inclusive nos deram mais de uma opção de número, mas o meu dia, não era de sorte. O celular quase não tinha sinal e quando tinha, os taxitas que atendiam a ligação não estavam trabalhando no domingo.

Pensamos em pegar uma carona, mas a rua era sem saída, e não havia chances de que algum carro passasse por alí. Pensamos em voltar caminhando? Sim, mas eram 8km e íamos extrapolar o horário que tínhamos com a locadora. Pensamos em chorar? com certeza, e parecia a única opção razoável.

Enquanto pensávamos numa solução para voltar para perto do carro, os mosquitos devoravam a minha perna, que afinal, também não tinha repelente e enquanto isso conversávamos com o rapaz e a moça que tomavam conta do local. Pelo menos descobrimos muitas coisas sobre a região, a história da velha usina e inclusive nos contaram sobre pontos turísticos que sequer estavam nos guias de turismo da cidade. Depois de pelo menos meia hora, acredito que por pena, os donos do local resolveram nos levar até a civilização cobrando a metade do preço da viagem que o “velho” do taxi nos cobrou.

Nesse ponto do dia também descobrimos que o motorista que estava trazendo o nosso carro da locadora ia atrasar. Então, porque não adicionar mais um ponto turístico para preencher o roteiro? Combinamos com os donos da cachoeira que nos levasse num ponto mais a frente, no Seminário Sagrado Coração de Jesus, a 4km do centrinho de Corupá, e claro que por toda gentileza demos uma bela gorjeta.

O horário já era avançado e o sol já estava quase se pondo, o resultado disso é que só conseguimos olhar o edifício por fora, não pudemos visitar a igreja e tampouco o museu. Gastamos alguns minutos no local e resolvemos ir andando pelos 4km na direção do carro, afinal, agora finalmente estava na hora de trocar os veículos. Na chance de conseguirmos carona fazia aquele sinal universal para qualquer veículo que passasse e o que recebíamos de volta eram caras feias ou assustadas.

Vencemos a distancia mas a notícia que viria em seguida não era agradável, o motorista ainda estava atrasado e a justificativa mais do que compreensível é que era um domingo de fim de feriadão e que todas as pessoas do mundo deviam estar se deslocando pelas estradas de Santa Catarina.

Paramos para um café numa padaria que milagrosamente estava aberta nesse horário, já a noite, mas na hora de pagar a conta, PARA TUDO! Cadê o meu cartão de débito?!?! Entrei em transe. O que mais poderia acontecer nesse dia?!?! Era tanta má sorte contornada, mas o dia continuava a se mostrar um dia difícil. Andamos em direção a pousada e eu só conseguia pensar em qual poderia ter sido a última vez que eu tinha usado o cartão. Uma reconstrução do dia passava-se na minha cabeça e eu tentando lembrar quais foram as vezes que utilizei o bendito cartão ou o dinheiro para pagar uma conta.

Passos largos… ele pode estar no carro, pode estar na minha mochila, penso. Eu só queria chegar rápido nesses lugares para descobrir se a perda do cartão era somente uma coisa temporária ou ia ter que ainda ligar para um maldito telemarketing para fazer o cancelamento de um cartão de crédito. Mas de repente, um sapo. Um SAPO MESMO! E daqueles gigantes. Ele está parado exatamente onde seria nossa próxima passada. Claro que saio correndo aos gritos e depois aos risos, deixando meu companheiro com a difícil missão de driblar o sapo e de não gritar, pois afinal, ele tinha que manter a sua fama de mal.

A troca do  carro senhores? Só aconteceu às 22hs e se não fosse minha vontade de contornar os imprevistos, claro que essas coisas ruins não teriam acontecido, mas va lá, coisas boas aconteceram também. O melhor de tudo é que um dia como esse gera muita história pra contar para os amigos na volta da viagem.

Para que a gente não se sinta frustrado quando tudo der errado, o ideal  é não criar tantas expectativas sobre uma viagem, afinal uma viagem não é um filme e muito menos a nossa eterna lua de mel, uma viagem é a nossa vida, é a VIDA REAL.

Para saber mais sobre Corupá visite o post Conheça São Bento do Sul e CorupáRota das Cachoeiras em Corupá.

Foto destacada do início deste post: Pixabay

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Débora Santiago
Débora Santiago
Turismóloga e fotógrafa por profissão e blogueira por vocação. Sócio-fundadora e autora do blog Diário de Uma Viajante desde 2010.
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